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23/09/16 - Por: Assessoria

Integração para mais conhecimento

IBIO e Embrapa Gado de Leite voltam a campo para entender o atual cenário da pecuária leiteira da Bacia do Ribeirão do Boi

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A detecção de formigueiros na área selecionada para a implantação da URT em iLPF: junho de 2014.

É preciso conhecer uma realidade em campo para propor soluções assertivas. Essa postura tem permitido que o IBIO e a Embrapa Gado de Leite construam, em parceria com os pecuaristas de leite da bacia do Ribeirão do Boi, alternativas técnicas que contribuam para reverter o cenário de seca e crise hídrica que comprometem a restauração ambiental e a produtividade sustentável do segmento na região. No final de agosto, William Bernardo e Marcelo Müller, da Embrapa Gado de Leite, acompanhados pela bióloga e coordenadora de projetos do IBIO no Leste de Minas, Narliane Martins, visitaram o território para verficar a adoção da integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), tecnologia disseminada entre produtores de leite da Bacia do Ribeirão do Boi.

“Esse trabalho de compartilhamento de conhecimentos e práticas sustentáveis entre os produtores do Ribeirão do Boi vem sendo desenvolvido pelo IBIO desde 2012, por meio de uma unidade de referência tecnológica (URT), instalada pelo projeto Território Sustentável Ribeirão do Boi, cujo papel é ser uma fazenda modelo para a atividade e um espaço para troca de informação e novas tecnologias, explica Narliane Martins. Nesse processo de capacitação, o IBIO sempre contou com o apoio de cooperação técnica da Embrapa Gado de Leite, que atua orientando o instituto na implementação, monitoramento e avaliação de ações que integram o projeto, como os dias de campo, cuja última edição foi promovida em maio.

De acordo com o engenheiro agrônomo e analista da Embrapa Gado de Leite, William Bernardo, as visitas realizadas em agosto tiveram o objetivo de acompanhar o andamento da URT e melhor entender os principais obstáculos enfrentados por esses pequenos produtores de leite na adoção das tecnologias de iLPF. “A região do Ribeirão do Boi é montanhosa e a experiência alimenta, ainda, um projeto de pesquisa da Embrapa que estuda a percepção de pecuaristas de leite que vivem em localidades com essa característica geográfica quanto à iLPF. Esse diálogo in loco é o meio utilizado para entender o que está dificultando a aplicação dessas técnicas pelos pecuaristas já abordados pelo projeto Território Ribeirão do Boi e que participaram de ações como os dias de campo”, completa o analista.

Cenário encontrado

Durante a visita, foram entrevistados cinco produtores de leite, a secretária de Meio Ambiente de Entre Folhas e o secretário de Agricultura de Vargem Alegre. “Nos deparamos com um cenário de seca rigorosa e falta de chuva, o que comprometeu o plantio da lavoura de milho, a pastagem e, consequentemente, gerou queda na produção local de leite”, relata William Bernardo. Ele explica que será necessário observar mais duas ou três safras para avaliar os resultados de quem aplicou as tecnologias de iLPF e avaliar, junto com os produtores, novas alternativas acessíveis e importantes para aquelas condições.

“Tal metodologia implica no plantio de uma cultura anual, como o milho, seguido por uma pastagem e também na plantação de árvores em faixas, como eucaliptos. O uso de calcário e adubo na cultura do milho deixa o solo mais fértil para a pastagem que é plantada em sequência. Essa prática melhora a qualidade química do solo, recuperando a pastagem e reduzindo a erosão e a ação dos ventos, além de proporcionar sombras, agregando bem-estar ao gado. O resultado é o aumento da produção de leite, com sustentabilidade”, esclarece William Bernardo. Porém, ele observou nas entrevistas uma certa desconfiança dos produtores do Ribeirão do Boi à adoção do eucalipto como técnica de manejo florestal. O especialista explica que a vantagem do eucalipto se deve ao rápido crescimento e à facilidade de comercialização no mercado. Tal espécie é economicamente viável, pois pode ser vendida ou utilizada em pequenas obras e cercas da propriedade.

Para Narliane Martins, esse diálogo em campo mostrou a nova realidade vivida pela região. “Os produtores nos relataram que muitos córregos secaram e outros estão quase lá. O longo período de seca aliado à falta de adesão de uma parcela representativa dos pecuaristas da região às técnicas de iLPF disseminadas pelo projeto Território Ribeirão do Boi ainda desenham uma realidade preocupante, marcada por pastagens degradadas, altos custos com suplementos, produção de leite insuficiente para atender a demanda e a venda de gado leiteiro como forma de evitar a morte dos animais por fome e sede”, conta a coordenadora de projetos do IBIO.

Os depoimentos dos pecuaristas de leite também mostraram que, diante da escassez de água, muitos estão optando por furar poços, ao custo médio de R$ 120 o metro, assumindo mais dívidas. “A captação de água por meio de um grande número de poços, simultaneamente, sem a adoção de tecnologias adequadas de infiltração e armazenamento dos recursos hídricos no solo é insustentável”, conclui a bióloga. O contexto se agrava ainda mais em função da ausência de maquinário apropriado ao relevo acidentado.

Segundo a gerente de Operações do IBIO, Amanda de Andrade, muitas das soluções viáveis e acessíveis estão sendo disseminadas desde 2012 aos produtores de leite da região. “Porém, esse é um trabalho complexo, envolvendo aspectos culturais, econômicos e ambientais. O produtor rural precisa se apropriar desse conhecimento técnico e colocá-lo em prática, respeitando a sua vocação, a aptidão da terra, o mercado e, por que não, o seu desejo. Só assim podemos ter uma efetiva transformação no território”, explica.

Para William Bernardo, nesse processo, encontrar novas soluções e alternativas e disseminar a informação técnica é o papel e o propósito do IBIO e da Embrapa nesse projeto. Ele enfatiza que a implantação e a condução da tecnologia de iLPF pelo IBIO tem agregado grande credibilidade ao Instituto junto às comunidades do Ribeirão do Boi e às lideranças locais. “O IBIO consegue articular e costurar ações em vários municípios da região. Embora sua atuação seja técnica, sem nenhum envolvimento político, essa facilidade de penetração e o domínio do conhecimento e mobilização social influenciam na adequação e criação de políticas públicas que visam o desenvolvimento econômico e social sustentável, nas áreas de agropecuária e meio ambiente”, declara o especialista.

Entre as técnicas que estão sendo disseminadas e motivadas pelo projeto Território Sustentável Ribeirão do Boi estão a adoção de barraginhas, a preservação e recuperação de nascentes por meio de cercamento, para que a vegetação ciliar se reconstitua naturalmente, o manejo racional do solo, além de outras ações que visam a adoção do método iLPF. “As pessoas entrevistadas expressaram que esse território é carente de instituições que promovam assistência técnica e ação voltada ao desenvolvimento rural sustentável e que, por isso, a presença do IBIO é tão impactante, pois ele cumpre muito bem essa função. O empenho e engajamento do Instituto nesse trabalho é grande e muito bonito de acompanhar”, reflete William Bernardo, da Embrapa Gado de Leite.

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